sexta-feira, 1 de abril de 2011

Coração de Eter


Em Nova Ether,existe um reino em grande progresso chamado Arzallum.Dentre todos os Reinos,este sempre foi o maior.
Seu Rei,um homem honesto e justo,ensinou todas as qualidades de um bom Rei para seus filhos,Anísio e Axel Branford e quando faleceu,coube a Anísio,o mais velho,tomar posse do trono e seguir os caminhos que o pai lhe tinha ensinado.Inteligente,corajoso e dotado de tamanho diplomacia,o novo Rei conquistou o respeito não somente de seu reino más também por toda Nova Ether,tendo seu irmão,o forte e leal Axel,como braço direito,garantindo assim alguém de total confiança ao seu lado nos tronos do Novo Passo.
Mas essa,é somente uma parte da história de Arzallum,pois o que contarei agora,é algo muito menos conhecido do que a família real,más não necessariamente menos nobre.

Davi era um garoto simples e bastante pobre que morava nos limites do reino de Arzallum,seu pai,um homem ruim e bastante violento,o forçava a trabalhar e estava sempre arrumando motivos para castiga-lo,pelo simples prazer que o som dos gritos de dor percorrendo os nervos do garoto lhe trazia.Esse foi o principal motivo que levou a mãe,Lara, a pegar os filhos em certa madrugada e fugir para o mais longe possível com somente uma pequena trouxa de roupas velhas e uma ou duas sacolas de frutas que mal daria para os garotos.A caminhada foi árdua más valeria a pena se o resultado fosse tirar seus filhos de perto daquele monstro.Sua pele trazia as marcas do passado e a cicatriz ao lado direito do rosto de Davi,o presente que o pai lhe deu em seu ultimo aniversário, lhe lembrava de que os maus tratos sempre iriam acontecer e era melhor fugir,enquanto tais marcas,ainda não se faziam presentes no filho mais novo,Price,4 anos mais novo que Davi e,na época,com apenas 1 ano de idade.
Encontraram uma casa abandonada nos limites do reino,e com autorização do castelo,se alojaram na pequena casa próxima a floresta e então,como nunca imaginaram,suas vidas enfim começaram a melhorar.
A felicidade era plena mas nunca dura o tempo desejado.
Lara dava um duro danado para sustentar seus filhos,conseguiu emprego para trabalhar 2 turnos em uma taberna mais ao centro e em suas horas vagas,tecia fios para fazer meias e vender na feira por alguma mixaria que lhe era muito bem vinda.Em algumas ocasiões,em que suas gorjetas na taberna a permitiam,comprava roupas quase boas para seus filhos,mesmo sabendo que ambos já lhe eram gratos apenas pela comida,moradia e muito provavelmente pela distância do pai,ainda se sentia culpada pela situação deprimente pela qual seus filhos eram vistos pelas ruas do reino.
Mas como o dia há de chegar,a loira e ainda muito bela Lara,já não detinha de tão boa saúde e aos poucos sua doença a deixou acamada e seus filhos,Davi já com 14 anos e Price com 10,é que tiveram que sustentar a casa.
A mãe,sempre lhes dizia que uma das coisas mais importantes  na vida era saber ler e escrever para que tivessem um futuro melhor que o dela.Por essa razão,fazia questão de que apesar dos pesares,continuassem a freqüentar a Escola do Saber,a conhecida escola do reino.
Davi, revezava com o irmão para que enquanto um estivesse estudando o outro pudesse cuidar da mãe,da casa,e de arrumar dinheiro para que tivessem o que comer nos dias e noites tristes ao lado da mãe e também com esperança de que,bem alimentada,esta,poderia melhorar.
Price era um menino inteligente, educado e extremamente extrovertido, mesmo sendo novo,vendia produtos com facilidade e nem mesmo os mais espertos passavam a perna nele,era um comerciante nato,já Davi,preferia fazer as coisas por conta própria,como a floresta ficava próximo de casa e fora dos limites do reino,não via problemas em caçar por ali e apesar de ser franzino,era ágil,rápido e resistente.Tinha paciência,característica necessária a uma caçador,e não errava por ansiedade,simplesmente esperava o momento certo para voltar com a caça para casa,o que fazia com que no dia seguinte,seu irmão não precisasse trabalhar e poderia apenas se concentrar no estudo e cuidar da querida mãe.
Ambos eram muito aplicados em seus estudos, Price ao contrario dos outros alunos,não saia para brincar durante os intervalos e levava os estudos muito a sério,usava os rápidos intervalos para fazer suas atividades e pensar em novos meios de ajudar sua família, pesquisava livros na biblioteca e estudava dobrado as contas e métodos matemáticos, já Davi, era disciplinado e nunca deixava que pensassem por ele,preferia sempre ter uma idéia formada e além de determinado era também muito criativo,qualidades muito apreciada por sua professora Maria Hanson e que via com bons olhos os debates em que Davi sempre ganhava em sala de aula.
As horas após a aula era o momento do dia que mais agradava a Davi, pois tinha liberdade na floresta para caçar e esquecer os problemas presentes em seu cotidiano.
Tinha uma incrível habilidade em se mover sem ser visto ou ouvido e por isso era um excelente caçador,sua presa somente o notava quando já era tarde demais para continuar viva.
Certa tarde,Davi estava na espreita esperando até que um coelho estivesse exatamente na mira para que o tiro fosse certeiro,sua arma era chamada de funda,feita com duas tiras de corda fina ,trançadas pela mãe,de cada lado com um pedaço de couro ao meio onde era encaixado a pedra,então era somente rodar a arma e deixar uma das pontas escaparem no momento certo para que a pedra atingisse o alvo,com a maior força possível.Mais enquanto estava a espreita,um leve farfalhar dos ramos a sua direita lhe fez notar que era tarde demais.Um ruído seguido por um baque e uma grande flecha se cravou na árvore centímetros acima da cabeça de Davi.
Assustado,Davi olhou da direção de onde a flecha tinha sido disparada calculando se haveria tempo de rodar sua arma antes que outra flecha estivesse a caminho,provavelmente não.
- Você estar bem? – Perguntou o estranho com forte sotaque estrangeiro.
- Como assim se estou bem? Por pouco não me matou com essa coisa ai – E olhando para o local onde a flecha havia sido cravada,notou algo que o fez cambalear e cair sentado no chão coberto de musgo.Na ponta metálica da flecha jazia uma grande cobra esverdeada que segundos antes estava pronta para dar o bote.
- Me...meu Deus,você salvou minha vida,m...mas como,como conseguiu acertar um alvo tão pequeno de tão longe?Quem é você? – Disse Davi completamente atônito.
- Meu nome ser  Ruguiero, e isto – disso o estranho apontando em direção a flecha presa a arvore e o arco em sua mão esquerda – É uma arma indígena,feito tanto para caçar quanto para se defender.De onde venho,pessoas que ter essa arma ser os homens mais fortes do reino.
- Eu já vi essa arma,os melhores arqueiros do mundo são arzallinos,não são?- Perguntou um Davi inseguro.
- Não importar quem ser melhor, importar por qual motivo usa a arma – Disso calmamente Ruguiero – Oriental ser rápido e disciplinado,más acima de tudo,ser inteligente,não atirar flechas sem ver conseqüência antes.Humano atira porque precisar ou porque ser mandado atirar,oriental atira porque sente que aquilo ser o certo e sabendo ser o certo,ele não erra.- Explicou apontando a cobra presa a árvore.
-Entendo – Disse Davi após entender o sentido daquelas frases.
– Eu observar  você caçar antes de cobra aparecer,você ter olhar bom para caça apesar de não ter arma para isso,qual ser seu nome?- Perguntou Ruguiero olhando o garoto nos olhos.
-Davi senhor,meu nome é Davi– Disse Davi apressado para corrigir sua falta de educação.
-Senhor Davi não parecer caçar por diversão, não caçar para machucar animal,então caçar porque menino Davi? – Perguntou serenamente Ruguiero.
- Não senhor – Respondeu Davi fitando o chão – Preciso caçar para alimentar minha família,minha mãe não está bem de saúde,meu pai...morreu e meu irmão ainda é muito novo e faço o possível para que ele aproveite seu tempo com os estudos – Disse Davi sem poder esconder a raiva do pai que ainda vivia em algum lugar do mundo,ou não,e um leve sorriso pareceu nascer em sua boca.
- Hummm,eu entend...- Disse Ruguiero parando ao ser interrompido por um sinal de Davi,olhando também em direção em que o garoto olhava,pode distinguir o som fraco vindo da floresta e ambos se puseram a andar.
Davi chegou a frente e logo notou que era um pequeno cachorro de pelos brancos e desgrenhados,parecendo morto de fome e com um imenso machucado na pata traseira.Davi retirou de sua pequena mochila o único pedaço de pão que trazia e lhe deu de comer.Notou a coleira com uma espécie de pedra preciosa e apesar de linda,o que mais lhe chamou a atenção foi o nome gravado ali.Rim Tim Tim,um sorriso lhe passou pelo rosto e lembrou-se do irmão que também tinha um nome diferente.
O que ele nunca soube,é que esse nome lhe foi dado pelo pai com 11 dias de idade,e que ao tentar vende-lo na feira mais próxima se deparou com um homem que lhe gritava –Price,price- com ar interrogativo,e que por falta de estudo,não pode distinguir que o estrangeiro lhe perguntava o preço do garoto em sua língua nativa,más o desdém daquelas palavras saindo da boca do estrangeiro soava bem ao pai que resolveu dar o mesmo nome ao bastardo,e nunca saberia.
Ruguiero então tomou a palavra – Você precisar de alimento e ainda assim dar para quem precisar mais,eu sentir seu coração puro,eu dar a você meu arco e ensinar a você atirar.Eu chegar hoje a esta terra e já sinto motivos traçados em meu Dharma  para cruzar mar de tão longe e conhecer pequeno Davi que ser grande em coração.Eu ficar mais alguns dias e encontrar você aqui para ensinar usar arma com sabedoria.
E com um sorriso imenso no rosto Davi soube,naquele momento,que se tornaria o melhor caçador que poderia existir.E sua funda não seria mais útil.Pelo menos é o que ele pensava.
Um mês após ter conhecido Ruguiero,Davi já era um promissor arqueiro e já havia passado a treinar sozinho pois ficou sabendo que Ruguiero estaria ocupado juntamente com a chefe da guarda real,e que não lhe era pertinente saber,então agradeceu ao mestre pelos ensinamentos e continuou a seguir seu caminho sozinho.Sabia que tinha nascido para aquilo.Suas técnicas de andar em silêncio tinham melhorado e sua mira era mortal.A tração de um arco comum pode chegar a 30 kilos,já o arco recurvo dado de presente a ele,era de uma tração de 50 kilos o que fazia com que suas flechas chegassem com muito mais força e mais longe do que qualquer um naquele reino poderia lançar.
Para aproveitar ao máximo o treinamento,não tinha quase colocado o sono em dia,pois estudar e treinar eram coisas que tomavam muito de seu tempo.
Durante esse tempo,aprender as técnicas que Ruguiero dominava em relação a ervas medicinais e soros e passou a tratar ele mesmo dos ferimentos em Rim Tim Tim que depois do mês de treinamento,já estava praticamente curado e tinha ,naquela manhã,sido solto dentro de casa,pela primeira vez desde que fora encontrado,enquanto Price brincava com ele e Davi descansava no sofá.
Tim Tim como os garotos o chamavam,era bastante tranqüilo e brincalhão,más naquela manhã algo perturbou o animal,suas orelhas se levantaram e ele ficou inquieto.Davi observando-o com curiosidade,após ter sido desperto por alguns latidos do animal,se pós em pé para observar melhor,e foi quando o cachorro disparou pela janela com um Davi alarmado correndo em disparada atrás dele e gritando por cima dos ombros para que o irmão ficasse com a mãe.
Continuou a correr pela floresta seguindo os latidos de Tim Tim,até que ouviu um som gutural e que não pertencia a seu animal,e então,olhando mais a direita pode notar de onde vinha o som e temeu por suas vidas.
Na clareira a sua frente estava um enorme Troll cinzento de pouco menos que 3 metros de altura,com um apito na boca e mãos que poderiam arrancar os membros de um homem e que nem poderia pensar no que faria a alguém tão franzino quanto ele.
-Finalmente nos encontramos de novo não é mesmo cachorro estúpido – Disse o imenso Troll acompanhado de mais rosnados do animal.
Na entrada da clareira,Davi se preparou buscando uma flecha em sua aljava mas não encontrou nada,olhou para a mão esquerda e está também estava vazia,lembrou-se então que havia deixado-os ao lado da porta e ao sair em disparada,esqueceu-se totalmente do cuidado que os arqueiros tinha de nunca saírem desarmados .
Sentiu então um peso conhecido no bolso direito e ao retirar a mão de dentro sorrio com seriedade lembrando que sua antiga arma esta sempre com ele para que não esqueça nunca de suas origens.Procurou então a maior pedra que o curto espaço protegido pelas árvores lhe permitiu e pegou-a sentindo a ponta aguda lhe ferir a mão e sorrio ao notar que poderia também lhe salvar a vida,proferiu uma rápida oração a seu criador e saiu para o campo aberto.
-Corre Tim Tim- Gritou o menino para o animal que respondeu de imediato sumindo entre a vegetação a caminho da nova casa.
-Ora seu,quem pensa que é para deixar minha refeição escapar?-Perguntou o furioso Troll- Pois agora pagará com a vida – Disse com seu sorriso amarelo e olhos furiosos.
-Aquele animal me é muito querido,qualquer dor causada a ele é dor causada a mim também.-Disse Davi ainda que protegido apenas por sua funda não demonstrava medo algum.
- Pois saiba que eu já o machuquei uma vez e o farei de novo,esse apito pendurado em meu peito era usado pelo servo que cuidava dele e que eu peguei depois de mata-lo,sempre que eu assoprar esse cachorro estúpido virá até mim e cedo ou tarde eu o comerei nem que seja vivo- Disse o imenso troll cuspindo as ultimas palavras como se sentisse seu gosto entre os dentes.
Davi armou sua funda e ficou preparado para o que viria em seguida.
– Acha que também sou um cão para que venha a mim apenas com pedras?- Zombou o gigante diante do frágil oponente.
- Não – Disse Davi com firmeza – Não venho somente com pedras,más enquanto me enfrentas com ódio,eu lhe enfrento com amor e fé,amor por minha família e fé em meu criador,sabendo que em momento algum eu estarei sozinho pois eles habitam em mim.
- Pois então lembra-te do meu nome,pois será a ultima palavra que ouvirá em vida. – E então avançou brandindo a espada em direção ao pequeno garoto – Eu sou Golias.
E foi então que tudo aconteceu,em um movimento rápido Davi que já tinha sua funda rodando soltou uma das pontas e a pedra voou com força assustadora contra o crânio de Golias,cravando-se poucos centímetros acima dos olhos do gigante fazendo-o cambalear e cair de costas no chão.A força com que a pedra atingiu seu oponente não feriu somente sua honra,más o baque foi tão grande que o leve deslocamento da cérebro contra a caixa craniana foi suficiente para que principal veia da cabeça se estourasse e levasse o oponente a leves espasmos até que ficou completamente imóvel,o gigante já não mais respirava,mais antes que os sentidos deixassem o seu corpo,ouviu algumas poucas palavras que enfim lhe seriam as ultimas.
- E eu sou Davi.
Neste momento entraram na clareira o próprio Rei Anísio acompanhado de sua amada e futura rainha Branca Coração de Neve com Tim Tim feliz em seu colo e duas dúzias de soldados armados.
- Tu és o menino Davi?- Perguntou com tranqüilidade Rei Anisio.
-Si...sim Senhor Majestade – Disse Davi ajoelhando-se.
-Ruguiero és um grande amigo deste reino e também da família real,me contou sobre o cachorro que fora encontrado por vós na floresta e minha querida Branca ficou muito feliz ao se dar conta de que poderia ser Tim Tim,o cachorrinho que lhe fora roubado no mês passado junto também de seu servo desaparecido.Importa-te de devolve-lo a nós senhor Davi?
-Não senhor meu Rei,fico feliz em poder ajuda-lo – Respondeu Davi ainda de joelhos.- E se não for indelicadeza a minha,poderia me dizer porque o nome é Rim Tim Tim Majestade?
-Não é indelicadeza alguma Davi,seu nome era Rim quando Branca o comprou nas terras de meu tio Rei Tercio,e como era treinado por nobres,em muitos eventos sociais,ele ficava livre para estar presente se quisesse,porém sempre que havia um brinde,e fazíamos tim tim com as taças,Rim latia,então nos passamos a lhe chamar de Tim Tim também,acreditamos que ele tenha escolhido seu próprio nome – Disse o Rei sorrindo abertamente.
-É justo – Respondeu Davi sorrindo para o animal aninhado no colo de sua dona.
-Pelo visto ajudou muito mais a nós do que simplesmente cuidando de Tim Tim não é senhor Davi  – Comentou o Rei olhando para o gigante – Fomos avisados sobre um gigante saqueador andando nas terras do reino e que já havia matado muitos homens de minha guarda más não esperava que fosse tão grande – Disse o Rei e ao olhar para a testa do gigante onde a pedra ainda estava cravada e seguir o olhar para a mão do garoto perguntou atônito o Rei dos Reis. - conseguiste mata-lo sem nenhuma ajuda e apenas armado de uma funda e uma pedra?
- Não Majestade,meu criador estava comigo e foi ele quem o matou,eu fui apenas sua ferramenta em suas mãos e confiei nele assim como ele confiou em mim,e sabendo que era o certo a fazer,eu o matei – Respondeu com simplicidade Davi.
- Hum,entendo,vejo que és um homem honrado Davi – Repare que a palavra menino já não era mais cabível aqui. – Passamos em vossa casa antes de nos dirigirmos para a floresta,conheci a teu irmão e também a condição de tua mãe acamada.Como agradecimento por teus serviços a este reino e a proteção de nosso animal,sua mãe será tratada por meus médicos e não há nada que eles não possam curar.
E foi só então que,depois de anos,o homem Davi chorou como menino,ainda de joelhos agradeceu ao Criador que olhava por ele,e ninguém poderia saber,mais aquele era o melhor presente de aniversario que ele poderia receber,naquele dia ele completava 15 anos de idade,e dessa vez o presente não seria sangue ou dor,mas a simples e pura felicidade.
E seu mundo enfim seria perfeito.